sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Crônica

Preguiça


Lanço mão da preguiça, da boca se abrindo a toda hora, da cara amassada do sono que não se concluiu.
Lanço mão da preguiça na hora de ir ao café.
Um bocejo.
Levantar a xícara, hum será que consigo?
Lanço mão da preguiça na hora de abrir a Veja da semana e ler as ciladas dos políticos a nós pobres mortais.

Fernadinho Beira-Mar lê dois livros por semana, toma sol, joga damas, faz exercícios e eu aqui nesta vida sedentária e preguiçosa de alguém que só muda de cadeira.
Não aguento mais ouvir falar em Chávez, em Rei, cansei !
Cansei da CPMF, cansei até do ministro da cultura anunciando que ano que vem ele sai, pois está com problema de voz de tanto falar, sua voz é para cantar.
Canta ministro !
Também estou rouca, também falo muito, também queria só cantar.

Sonhei com a cara do Presidente Lula nos Cassetas e acordei com a cara do Ministro da Defesa aqui em minha cidade comprando Helicópteros, vão dar aeronaves para a polícia.
Vão sobrevoar as favelas do Rio, vão parar caminhões nas estradas do interior, repletos de drogas, vão jogar o leite que tinje cabelo, no lixo !
E vão fazer o que com tudo isso?

Escarafunchei meu lixo e sabe o que encontrei?
Aqueles vestígios de ontem, lembranças de um tempo onde tudo era de verdade, a verdade era soberana.
Vivo no tempo do plástico, as caras humanas se plastificaram: - "tô" com medo! Plástico polui, não se acaba, até quando vou ter que engolir essas caras mascaradas, plastificadas pela inveja, a cobiça que cega, a corrupção !

No que nos transformamos?

Essa competição desenfreada, a necessidade do TER, SABER mais que o outro, a arrogância que sobe ao PODER e começa no jardim da infância.

Lanço mão de todo o conhecimento nesta manhã.
Apenas quero sorver meu café quentinho, fechar meus olhos, imaginar o mundo dos sonhos onde os Humanos tinham um coração rosa e branco, amor e paz.
Esse coração vermelho, que agride, machuca e maltrata só serve para as festas em Parintins, é alegoria, é adornado de lantejoulas. Acho que estou "variando", ficando lelé como se diz aqui no meu interior.
Mas afinal o que é ser normal? ( Psicóloga ouve cada coisa)
E para quê?

Lanço mão hoje da interrogação e da reticências, aliás adoro reticências ...

Agora tá na moda "O SEGREDO", lei da atração e só querem atrair a grana, os eletrônicos que surgem a cada dia.
Pensar no positivo para a ajuda solidária, é ruim né?
Fico aqui, de mão para cima e correndo ao mar imaginário na tentativa de lavar a alma com este sal puro que me acorda para a vida e me faz sonhar azul ou será que é verde?
Não, é magenta.
Hoje tudo tem tantas opções!

Peço desculpas aos meus leitores, mas é só um desabafo por essa fase de crise no mundo e olha que ela já dura há tempos.
Vou voltar ao meu idílio matinal, afinal é madrugada ainda quando me rebelo, o sol desponta com seus raios violetas que transmutam minha energia macabra.

Novo dia começa e a esperança brilha no horizonte azul/violeta e o verde do louva-deus da Cristina e suas fezes esquisitas brilham no sofá que ela lavou, saio agora para lavar minha alma em uma enorme caneca de café puramente nacional, do interior das Gerais, aqui do meu sul de Minas.
"Eta cafézinho bom !"

Meu sol já raiou e vou à luta .
Beijos. Beijos. Beijos.


Syl Signoretti

Publicado no Recanto das Letras em 26/11/2007Código do texto: T753031

2 comentários:

Unknown disse...

Belíssima a sua Crônica Syl, vê-se que esta antenada em tudo, não somente em sua vida.

Abraços

Voltarei sempre.

Unknown disse...

convite aceito...rs...rs. estou por aqui lendo seus escritos maravilhosos. paz a vc sempre! Ka Mota